terça-feira, 26 de outubro de 2010

FORMAÇÃO DE DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS EM BARRAGENS.

FORMAÇÃO DE DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS EM BARRAGENS.
O CASO DA LOMBA DO SABÃO, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Este trabalho analisa a formação de depósitos tecnogênicos na Barragem Lomba do Sabão, associados a processos de assoreamento. Para isto, foi feito o mapeamento da cobertura vegetal, do uso do solo e das áreas assoreadas próximas ao reservatório. Para este mapeamento foram utilizadas técnicas de fotointerpretação, geoprocessamento e sensoriamento remoto, tomando como base a interpretação de fotografias aéreas de duas épocas (1972 e 1991) e uma imagem de satélite (1999). Posteriormente, os depósitos foram caracterizados em termos de estrutura e gênese. Para isto fez-se a amostragem superficial em 15 pontos em áreas de assoreamento, testemunhagem em cinco pontos e análise sedimentológica deste material. Os resultados obtidos foram: a quantificação da área assoreada, a caracterização dos depósitos e a explicação da morfodinâmica que lhes dá origem.
Os depósitos tecnogênicos constituem, segundo Oliveira apud Peloggia (1998), depósitos resultantes da atividade humana, abrangendo depósitos construídos (aterros, corpos de rejeitos, etc.), depósitos induzidos, como os sedimentos que se depositam em razão da erosão decorrente do uso do solo e depósitos modificados (depósitos naturais alterados tecnogenicamente por efluentes, adubos, etc.). Outra classificação desenvolvida diz respeito à caracterização do material constituinte do depósito. Foi criada por Flanning & Flanning (1989) e abrange os materiais úrbicos, gárbicos, espólicos e dragados. De acordo com Flanning & Flanning apud Peloggia (1998), os materiais úrbicos constituem "(...) detritos urbanos, materiais terrosos que contêm artefatos manufaturados pelo homem moderno, freqüentemente em fragmentos, como tijolos, vidro, plástico, metais diversos, etc". Os materiais gárbicos abrangem todo "(...) material detrítico com lixo orgânico de origem humana e que, apesar de conter artefatos em quantidades muito menores que a dos materiais úrbicos, são suficientemente ricos em matéria orgânica para gerar metano em condições anaeróbicas". Materiais espólicos são "materiais terrosos escavados e redepositados por operações de terraplanagem e depósitos de assoreamento induzidos pela erosão acelerada. São materiais que contém muito pouca quantidade de artefatos". Materiais dragados são compostos por "(...) materiais terrosos provenientes da dragagem de cursos d'água e comumente depositados em diques, em cotas topográficas superiores às da planície aluvial".

A barragem Lomba do Sabão foi construída na década de 40 para o tratamento de água com fins de abastecimento público. Hoje, a Estação de Tratamento de Água (ETA) Lomba do Sabão abastece, majoritariamente, os bairros Lomba do Pinheiro e Agronomia, sendo responsável pelo tratamento e distribuição de 4% da água consumida no município de Porto Alegre, abastecendo 48.300 habitantes (Bendati et al., 1998). Esta barragem é alimentada por seis sub-bacias de arroios de pequeno porte que compõem a bacia do Arroio Dilúvio e, de acordo com Tavares (1997), está localizada na região limítrofe entre os municípios de Porto Alegre (E-SE) e Viamão (W), dentro do Parque Saint Hilaire, que constitui, em sua maior parte, área de preservação permanente.

A área de contribuição da represa é de 1.428 ha, na qual atualmente residem cerca de 23.000 habitantes (Bendati et al., 1998). Este reservatório tem caráter estratégico para a cidade e para o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), considerando que constitui a única captação de água que não provém do Lago Guaíba e, portanto, representa uma área livre de poluidores potenciais como o Pólo Petroquímico, o Pólo Carboquímico, indústrias de papel e celulose, de couros, além da navegação. Visto isso, "(...) a manutenção desta Estação de Tratamento de Água garante a continuidade do abastecimento, caso ocorram eventuais problemas de contaminação na bacia do Guaíba" (Bendati et al., 1998). Entretanto, a qualidade da água dos mananciais que deságuam na barragem tem sido comprometida no decorrer dos anos, devido à ocupação urbana progressiva em área no entorno do reservatório.

A espacialidade em estudo, situada aproximadamente a 30º05'S e 51º06'W, corresponde, então, a uma área com conflito de uso na periferia do município de Porto Alegre, caracterizando-se como uma área de preservação e de expansão urbana, com ocupação, em grande parte, irregular do terreno. Esta situação acaba ocasionando, além de problemas sócio-econômicos característicos, problemas ambientais em decorrência do uso inadequado do solo para habitação, instalação de pequenas atividades econômicas, despejo de águas servidas, esgotos domésticos e lixo nos arroios tributários (Teixeira, 1992) e problemas legais devido à posse irregular da terra.

O processo de assoreamento, crescente neste período (1972=1,2 ha e 1991=14,63 ha), verifica-se, principalmente, nas desembocaduras dos seis principais arroios que deságuam na Barragem Lomba do Sabão (arroios Sem Nome e Casa Velha a NE, Pequeno a E, Dilúvio e Taquara a S, e Vitorino a W) o que leva a conclusão de serem, estes sedimentos, trazidos pelos cursos fluviais, em virtude de processos que alteram a dinâmica destas sub-bacias, como a remoção das matas ciliares. A lâmina d'água da Barragem Lomba do Sabão diminuiu de 77,5 haem 1972, para 64,4 ha em 1991 e 53,04 ha em 1999. A área agrícola, localizada a SW que compreende o viveiro da SMAM, a qual expandiu-se no período de 1972 a 1991 (1972=4,49 hae 1991=6,36 ha) pode ser indicada, provavelmente, como um dos elementos responsáveis pelo assoreamento deste setor da barragem, já que o solo apresenta um tipo de cobertura que poderá favorecer os processos degradacionais, mais do que em áreas de mata. Os campos, em situações de escoamento concentrado, também favorecem os processos de erosão superficial e remoção de sedimentos, mas a explicação para os assoreamentos de setores da barragem, como a S/SE, em áreas de mata, podem ser dadas, em parte, pela existência significativa de mata de eucalipto que não evita o escoamento concentrado em períodos de intensa precipitação.
A ocupação intensa das vertentes à montante da barragem alterou a dinâmica hidrogeomorfológica do local, deixando o solo mais suscetível a processos torrenciais de escoamento e erosão, levando a um grande assoreamento em pouco tempo. Assoreamento que, tendo iniciado há cerca de cinqüenta anos, foi evidenciado com a diminuição da lâmina d'água há menos de trinta anos.

Agora, com um processo adiantado de degradação da área, pensa-se nas medidas para mitigar os impactos e desacelerar este tempo geomorfológico. Medidas, na sua maioria, tecnológicas, desenvolvidas para atenuar conseqüências que não se havia pensado no início das ocupações humanas na área da barragem, ou que não se tinha idéia das dimensões que tomariam. A natureza se recupera, mas ainda ficarão registradas as marcas do homem nos depósitos tecnogênicos que ali surgiram.

Referencia:
Ficha bibliográfica

ROSSATO, M.S.; BASSO, L.A. SUERTEGARAY, D. M.A. Formação de Depósitos Tecnogênicos em Barragens. O caso da Lomba do Sabão, Rio Grande do Sul, Brasil Biblio 3W, Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. VII, nº 407, 30 de octubre de 2002. http://www.ub.es/geocrit/b3w-407.htm

Ana Paula Tavares - 4º Periodo - Arquitetura e Urbanismo

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