segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Questão da Urbanidade nas Margens do Ribeirão Jacaré na Cidade de Itatiba (SP), (Ambiente Tecnogënico)

O presente artigo busca apresentar as diferentes ocupações à beira de corpos d’água ao longo do tempo. O estudo de caso foi o ribeirão Jacaré na cidade de Itatiba (SP).
O município de Itatiba, localizado na Região Metropolitana de Campinas, tem 325 km² e 91.479 habitantes.
O ribeirão Jacaré é considerado um rio urbano, pois sua maior extensão corta a área urbana central e corresponde ao médio e baixo Itatiba. As águas do ribeirão Jacaré, no entanto, são formadas por diversas nascentes à montante, em área rural. Sua extensão é de aproximadamente 7,5 km sendo 3,5 km em área rural e 4 km em área urbana. Esse ribeirão nasce e deságua nos perímetros do município, sendo, portanto, um rio integralmente itatibense.
Ao longo da história percebe-se que o ribeirão Jacaré sempre foi importante para Itatiba. Primeiramente era utilizado como fonte de abastecimento público e para irrigação de lavouras. Posteriormente, na fase de industrialização, a água do ribeirão servia para a produção industrial (tecido, refrescos) e concomitantemente, foi utilizado como fonte de abastecimento público. As inundações constantes a partir dos anos 1970 levaram o poder público municipal e estadual a retificar e canalizar (2) o ribeirão a céu aberto, com gabiões permeáveis, implantando avenidas às suas margens. O crescimento populacional sem a implantação regular de programas e projetos de saneamento, fez com que, o esgoto doméstico encaminhado diretamente aos córregos sem tratamento, se tornasse o principal fator poluente das águas dos rios e seus afluentes. Nos anos 80 o problema se agrava regionalmente, o que desperta a necessidade de investir em saneamento básico e numa Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Um aspecto interessante sobre o ribeirão é que no início do século XX era o principal espaço de lazer na cidade. Atividades como nado, pesca, batizados e brincadeiras eram cotidianas. Esses fatores de usufruto, aliados à qualidade dos espaços nos trechos do ribeirão são os que proporcionam a urbanidade do lugar.
A urbanidade nas margens do ribeirão Jacaré se dava então (quando limpo) pela apropriação das pessoas e das diversas atividades ocorridas nesses espaços. Além de identificar o grau de urbanidade desses lugares, é preciso reconhecer que diversos outros aspectos dotados de grande complexidade também compõem a dinâmica das relações entre a sociedade e os espaços naturais no meio urbano.
No final do século XIX, a principal fonte de água potável para os moradores de Itatiba (SP) eram os poços perfurados nos quintais de suas próprias casas. Havia também as opções de se retirar água da “biquinha”, ou de comprar água retirada do ribeirão Jacaré, que era transportada em carroças. O esgoto era depositado em fossas, quando não escorria pelas ruas a céu aberto, no entanto, a quantidade de esgoto produzido pela cidade não chegava a causar grandes impactos e contaminação ao ribeirão Jacaré, de forma que a água era limpa e podia ser consumida sem nenhum tipo de tratamento.
O ribeirão Jacaré, que abasteceu a cidade desde a década de 1950, também foi o principal rio utilizado para a agricultura. Porém, com o aumento da poluição industrial e do crescimento demográfico, a partir da década de 1970, a captação de água da cidade passa a ser realizada no rio Atibaia.
Após a crise cafeeira, a industrialização ocorreu em todo país, houve a instalação de diversas indústrias, principalmente têxteis, às margens do ribeirão Jacaré, dando início então à coloração desse rio.
O esgoto industrial e doméstico em Itatiba era lançado in natura em corpos d’água até recentemente. A Estação de Tratamento de Esgotos Domésticos (ETE) só foi implantada em 2007.
Outro fator histórico da relação entre a população e este rio urbano eram as inundações. Em Itatiba esse fenômeno era constante em épocas de chuva, pois no ribeirão Jacaré existiam muitos meandros e grandes pedras que evitavam o rápido escoamento da água. Até o início da década de 1970 o ribeirão Jacaré possuía seu curso natural. Devido às inundações, em 1976 a administração pública iniciou as obras de retificação do ribeirão Jacaré e a dinamitação de algumas pedras grandes que se encontravam no leito do rio e impediam um fluxo mais rápido da água.
As inundações talvez sejam as principais responsáveis por conflitos entre as cidades e os rios urbanos, pois o não respeito às Áreas de Proteção Permanente (APP) faz com que os esses rios, na maioria das vezes, percam sua função principal de abastecimento de água e firme-se cada vez mais como escoadores do esgoto, tornando-se mal quisto no contexto urbano. Além do transtorno advindo desse fenômeno, aliado ao déficit na coleta dos esgotos, outro fator que se destacou como marco na história da relação entre a população urbana e os corpos d’água foram as epidemias.
Esses fatores foram responsáveis pelas primeiras obras de intervenção em cursos d’água. Estas intervenções foram principalmente a retificação de trechos de rios e córregos situados em áreas urbanas e o aterramento de suas várzeas. Dessa forma visava-se evitar as inundações e consequentemente as epidemias, já que a água escoaria mais rapidamente para fora do perímetro urbano.Como se evidenciou, o ribeirão Jacaré sempre foi funcional para a cidade. Primeiro através de sua utilização na agricultura, depois no fornecimento de água para o abastecimento público e para o processo de produção industrial, o ribeirão é por fim utilizado para escoamento dos efluentes da cidade.
Uma cidade é formada por inúmeros objetos visuais que são estruturados e conectados para garantir a vitalidade e funcionalidade da mesma. São vias, ruas, avenidas, bairros, marcos, edifícios e tantos outros componentes que possuem uma finalidade e um significado dentro da cidade. São elementos do ambiente construído ou natural que, cada qual com suas particularidades interligadas, adquirem funções específicas no todo da cidade.
Segundo Kevin Lynch, é importante visualizar a clareza ou o que ele chama de “legibilidade” aparente da paisagem das cidades, para que se possa indicar a facilidade com que suas partes podem ser reconhecidas e organizadas num modelo coerente.
Com o espaço construído, seja ele um ambiente naturalizado ou não, e sua dada função reconhecida, o indivíduo, através da vivência cotidiana com o espaço, cria uma identificação com o mesmo.
Durante muito tempo, as margens de cursos d’água foram suporte de múltiplas funções e intensa atividade. Porém, fatores humanos comandados por fatores econômicos fizeram com que ao longo da história, a relação entre a sociedade urbana e os corpos d’água fosse algo não-harmonioso, espaços ausentes de urbanidade. Para Allaman
“Os motivos que levaram à ruptura entre as cidades e seus cursos d’água são conhecidos: o desaparecimento ou diminuição das funções fluviais, especialmente de transporte e meio de comunicação; a preponderância do transporte automotivo (transformando as bordas dos rios em vias rápidas e estacionamento de veículos); a poluição das águas e a abordagem higienista, que provocaram o desaparecimento de vocações como o lazer e banho.”
Dessa forma, os espaços ribeirinhos urbanos possuem duas conotações. Uma negativa, ligada à degradação e ao abandono, e a outra positiva, ligada às atividades tradicionalmente localizadas nas margens dos rios (no âmbito do lazer, como a pesca, por exemplo).
O rio urbano hoje é um espaço construído pela engenharia que o moldou de acordo com as estruturas do sistema econômico vigente. Atribuiu-se a esse bem natural funções repulsivas e que impossibilitaram a permanência de suas funções naturais condicionantes à diversas formas de vidas (fauna e flora).Percebe-se que o ribeiräo (ambiente tecnogënico I) sofreu ao longo dos anos intervençöes humanas,como aterramento de suas várzeas, retirada de pedras,canalizaçäo de seu leito,contruçäo de vias, surgindo assim ambiente tecnogënico II.

Fonte:www.vitruvius.com
JÉSSICA GONÇALVES SILVA, Acadëmica do 4o PERÍODO DE ARQUITETURA E URBANISMO - UNIPAC - BOM DESPACHO

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