domingo, 24 de outubro de 2010

Futuro possível

Em busca de soluções para as cidades no século XXI, profissionais do mundo todo apresentaram, na Bienal de Arquitetura de Veneza, propostas que abordam desafios atuais: trânsito, qualidade das águas e escassez de alimentos.

Ao definir como tema desta edição As Pessoas Encontram-Se na Arquitetura, a diretora da Bienal de Veneza 2010, a arquiteta japonesa Kazuyo Sejima, abriu uma discussão sobre as cidades e seu futuro - afinal, no ano 2050, 70% da população mundial habitará regiões urbanas, segundo previsão da Organização das Nações Unidas (ONU). Como elas devem ser? O que fazer agora para que vivamos melhor a partir de meados do século XXI? E mais: como tornar nossas metrópoles autossustentáveis? Essas são as perguntas a que a maioria das diversas delegações da exposição, em cartaz até 21 de novembro na cidade italiana, tenta responder das mais variadas formas, como desejava Kazuyo. “Espero que a exposição permita que as pessoas conheçam idéias de diferentes origens e reflitam sobre o presente, que em si encapsula o potencial para o futuro”, disse ela a ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO. Para Kazuyo, a globalização não deveria significar padronização. “É importante que cada espaço urbano seja diferente e que possa haver intimidade e franqueza para que as pessoas possam ter um senso de localidade único.” Assim, a Malásia apresenta planos de edifícios e comunidades de acordo com seu clima tropical e Hong Kong mostra projetos para um novo distrito que pretende inseri-la no mapa cultural mundial.
A importância do esforço conjunto de toda a sociedade apareceu em várias propostas. “A cidade é um organismo, não um conjunto de prédios e ruas”, afirma o arquiteto Michael Sorkin em seu estudo para Nova York. “A elaboração de um planejamento sistêmico, integrado, de grande escala é o tipo de reorientação que governos, planejadores, arquitetos, engenheiros e cidadãos precisam urgentemente considerar”, completa. Lars Holten, vice-presidente da Carlsberg A/S Properties, que propõe um plano para transformar a cervejaria da empresa num novo bairro da capital dinamarquesa, resume: “Queremos ser capazes de fazer compras perto de casa, encontrar amigos na praça e ir ao trabalho a pé”. Com cidades cada vez maiores, palavras antigas como comunidade voltam a ganhar importância.

1 – DINAMARCA. O distrito industrial de Nordhavn (a 4 km do centro de Copenhague, na costa) deve receber, em 50 anos, 4 milhões de m ² - construídos para abrigar 80 mil pessoas em novas salas comerciais e habitações. O projeto, do escritório COBE, prevê a criação de canais na zona portuária cortando a região. A mobilidade vai se dividir entre ciclismo (1/3), transporte publico (1/3) e carros (1/3) – assim, bastarão cinco minutos para se deslocar a parques, instituições públicas e comércio.

2 - ESTADOS UNIDOS. New York (Steady) é o projeto da organização sem fins lucrativos Terreform, fundada pelo arquiteto Michael Sorkin, que pesquisa a possibilidade de a cidade tornar-se autossustentável em alimentos, energia, lixo, água, suprimento e qualidade do ar, emprego, cultura, saúde e transporte – de uma casa isolada a um bloco de edifícios.
Quintais, calçadas e terraços serviriam à produção de comida. O solo seria revestido de material permeável que armazena água da chuva; nos telhados, turbinas de vento e painéis solares gerariam energia.


3 - AUSTRÁLIA. Para o escritório NH Architecture, em parceria com Andrew Mackenzie, o futuro urbano da Austrália, depois de 2050, será dominado pelo rápido crescimento populacional, padrões climáticos voláteis e grande importância da água. Em seu projeto futurista, uma rede de aquedutos ligará as principais regiões urbanas do país, formando uma conurbação de 1000 km de extensão e transformando a agricultura e o estabelecimento de cidades – a despeito das condições climáticas. No norte, as enchentes causadas pelas monções tendem a se tornar anuais, o que empurrará o desenvolvimento para as bordas. Os chamados Seaburbs (mistura de subúrbios com mar, palavra usada para os bairros que imitam os subúrbios ricos das cidades australianas, só que no litoral) da cidade de Darwin se expandirão acima do oceano e alcançarão até as plataformas petrolíferas. No sul, a seca na região rural forçará a população rumo a Melbourne, levando ao desenvolvimento da baía da cidade.

4 - HONG KONG. A cidade planeja entrar no mapa cultural mundial com o distrito cultural West Kowloon, uma área de 400 mil m² situada de frente para o mar, no Porto Victoria. O escritório inglês Foster + Partners foi chamado para a concorrência pública. Sir Norman Foster propõe privilegiar os espaços verdes criando um parque de 190 mil m² com uma floresta urbana densa em alguns pontos, recuperando espécies típicas da China. À beira mar, fica um passeio público de 2 km de extensão. Os carros passam pelo subterrâneo. No total, há 32 mil m² de equipamentos artísticos e culturais. A pedido do público focou-se também a educação: e o topo dos teatros tem salas dedicadas ao aprendizado. Um dos concorrentes do projeto é o escritório OMA, liderado por Rem Koolhas. O arquiteto inspirou-se num conceito típico de Hong Kong e estabeleceu três vilas urbanas ligadas ao maior parque público da cidade. No lado leste, ficam os museus, dedicado à cultura popular e às artes visuais, além de espaços para educação, estúdios de artista, hotel e lojas. No meio, há uma área comercial, continuaçãcao dos tradicionais mercados de rua, e restaurantes.


5 - MALÁSIA. O projeto da Green Tower, do escritório ArchiCentre, é um arranha céu multiuso sob medida para o clima tropical do pais. Por isso, o arquiteto Tan Loke Mun pensou num formato semelhante a uma árvore, em que um telhado, ou “copa”, protege a edificação do sol e contém painéis solares para a captação de energia. No centro, fica um coletor água, drenada para tanques. O telhado é cheio de gás hélio e gira com o vento, gerando energia. Parte da fachada exibe fendas para melhorar a ventilação; parte é revestida com plantas, que surgem também nos terraços para limitar a incidência de sol.

(Reportagem Revista arquitetura & construção - outubro 2010)

Marina Oliveira Silva - 4º perido - Arquitetura e Urbanismo

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